Com proporções continentais e muitas influências, o cardápio é variado, e a carta de vinhos para fim de ano, também
Final de ano chegou, e a minha sensação é de que voou. Seria a mesma da grande maioria? É hora de comer e beber fartamente, para alguns um acontecimento à parte, para outros, hora de comer e beber mais e melhor ainda! São muitas possibilidades de comidas e bebidas, mas tudo que é ritualizado, como as festas de fim de ano, já tem seus códigos inseridos na história cultural de cada sociedade. Esse nosso país de proporções continentais tem, entre suas regiões, uma distância muitas vezes superior ao distanciamento entre muitos países de um mesmo continente, mas, apesar de falarmos a mesma língua, a gastronomia pode variar bastante, em função da própria diversidade geográfica. Assim, trouxe para este artigo algumas das iguarias presentes nas ceias de diferentes regiões do Brasil e vou propor alguns acompanhamentos de vinhos para as ceias de fim de ano.
Norte
Começando pelo Norte do país, a região amazônica é onde mais se come peixe no Brasil e tem como estrela o grande pirarucu (que pode atingir 3 metros de comprimento e pesar 200 quilos). Muitas vezes apelidado de “bacalhau brasileiro”, ele pode ser consumido fresco e salgado e entrar em inúmeras receitas: ceviche, filé grelhado com molho de ervas, escondidinho, moqueca, salada defumada, entre outros, são algumas das possibilidades usuais, indicadas pelo projeto de gastronomia Fartura.
Para vinhos de acompanhamento, temos que pensar, em primeiro lugar, que, em se tratando de pratos de peixes, o mais comum e menos arriscado é envolver vinhos brancos, que são igualmente mais leves. Além disso, se o sal for mais puxado, é incompatível com os taninos dos vinhos tintos.
Como o pirarucu é um peixe mais gordo, é melhor ir de vinho branco com um pouco mais de corpo e, caso a receita envolva fritura, molhos e temperos gordurosos, isso pode ser resolvido com um branco com passagem por madeira. Dicas de algumas uvas possíveis: para pratos mais delicados, como ceviche, vinhos da Sauvignon Blanc ou vinhos verdes frescos; para intermediários, vinhos da Chardonnay ou Viognier sem madeira; para pratos intensos, vinhos da Chardonnay, Encruzado, cortes do Alentejo com passagem por madeira.
Nordeste
Indo para o Nordeste do Brasil, algo mais exclusivo seria a presença comum de caprinos, que chegaram ali no século 17 e se adaptaram à aridez do sertão nordestino. Uma iguaria muitas vezes preparada é o pernil de bode assado servido com mel, melaço ou calda de rapadura, que pode ser acompanhado por um cuscuz na manteiga de garrafa. As carnes de caça, de modo geral, além da força proteica, são gordurosas e apresentam sabores fortes, pedindo vinhos também encorpados.
Vinhos da uva Syrah, com passagem por madeira podem funcionar muito bem, além de cortes com uvas bordalesas ou de uvas tintas portuguesas. E nem precisam ser internacionais. Todos eles já são amplamente produzidos no Brasil, inclusive no Vale do rio São Francisco.
Centro-Oeste
No Centro-Oeste e em algumas partes de Minas Gerais, uma iguaria muito presente nas festas é o arroz com galinha e frango com molho de açafrão-da-terra e pequi cozido na manteiga. Comidas cheias de aromas e temperos.
Apesar de a carne ser de ave (uma carne branca) é comum que esses frangos sejam mais gordos e apresentem sabores fortes. Então, ficamos na fronteira entre o vinho branco e o tinto, mas, provavelmente, será mais fácil encontrar um tinto de corpo médio que acompanhe a estrutura do prato do que um vinho branco.
Vinhos tintos com boa presença de fruta, medianamente alcoólicos e com taninos macios devem funcionar. Uvas: Merlot (há bons no Rio Grande do Sul); Malbecs de corpo médio, sem madeira; Tempranillos espanhóis sem madeira; e Pinots Noir da América do Sul com um pouco mais de corpo.
Sudeste
O Sudeste do Brasil é mais cosmopolita, recebendo influências europeia e norte-americana. Sua ceia de Natal tem como grandes protagonistas o bacalhau, o peru e a carne de porco (lombo ou pernil). Para o bacalhau, seguimos na mesma linha do pirarucu, salvo que o perfil é sempre com salga e há variações de preparo muito alinhadas com as receitas portuguesas. Quando há presença de outros ingredientes e muito azeite, como na bacalhoada, vale apostar num vinho tinto, sem muita estrutura tânica, mais elegante e fresco.
O peru, por sua vez, é uma ave mais seca, menos gordurosa. Se for o peito do peru com acompanhamento delicado, vinho branco de corpo médio com boa acidez e medianamente aromático. Pode-se inovar com uvas italianas: Roero Arneis, Verdicchio, Vernaccia… Mas como muitas vezes, os acompanhamentos são mais gordurosos – farofa, arroz temperado, frutas passas, castanhas -, uma opção pode ser vinhos rosés e tintos leves.
Carnes de porco mais leves são bem versáteis, podem ficar muito bem com vinhos brancos da Riesling e tintos de classe da Pinot Noir. Mais gordas funcionam com vinhos levemente gorduchos da Carménère ou Garnacha, por exemplo.
Sul
Finalmente, no Sul do Brasil, a influência europeia é soberana, seja italiana, alemã ou portuguesa. Cordeiro e carne de porco estão muito presentes nas ceias, e o gaúcho, como bom produtor de gado bovino que é, pode sempre reservar um lugar para o churrasco. Da carne de porco, acabamos de falar. O cordeiro segue na linha da carne de caça e, assim como o churrasco, pede vinhos tintos encorpados, de preferência com boa acidez e passagem por madeira. Cortes bordaleses, vinhos tintos nobres de uvas italianas, como Sangiovese, Nebbiolo, Aglianico ou, ainda, Malbecs encorpados e Tannats brasileiros ou uruguaios.
Para finalizar, espumante brasileiro sempre! A bebida curinga harmoniza bem com quase tudo!
FONTE: 20/12/2024 – MONITORMERCANTIL
Ao navegar em nosso site você concorda com nossa Política de Privacidade. Ok